jueves, 6 de mayo de 2010

Católicos conservadores na linha da frente do apoio ao Papa

BENTO XVI EN PORTUGAL
O patriarca de Lisboa pediu aos católicos que recebam o Papa "como ao próprio Senhor" e é isso que espera que aconteça. Nas ruas, Bento XVI não estará sozinho: os católicos anónimos, bem como os que estão organizados em movimentos, vão distribuir-se ao longo dos percursos para que o chefe da Igreja sinta um povo unido em seu redor.

FTE: P-PUBLICO.COM

Embora a Igreja Católica albergue muitos grupos, alguns, apesar de serem diferentes entre si, os investigadores não hesitam em chamá-los “conservadores”. Um adjectivo que rejeitam. “Se o Evangelho é conservador, então somos conservadores! Mas se for progressista, então somos progressistas”, responde Margarida Freitas, do movimento Focolares.

Durante a visita papal, em Lisboa, o Caminho Neocatecumenal, grupo que viu o seu estatuto aprovado há dois anos pela Santa Sé, aproveitará para evangelizar nas ruas, com cânticos e conversas para “anunciar a boa notícia do Evangelho”, explica Fernando Alvarez, da equipa responsável nacional. “O Evangelho é uma revolução absoluta, não há nada mais livre do que o Evangelho. O que implica a vitória sobre a morte e os nossos sofrimentos”, defende, contestando a designação de “conservador”. Na próxima sexta, o movimento vai acolher os seus fundadores em Fátima, num encontro europeu onde são esperados milhares de jovens.

Os Arautos do Evangelho, uma associação de direito canónico, de origem brasileira, reconhecida pelo actual Papa, trajados com fatos de inspiração militar, botas incluídas, serão a orquestra que acompanhará a cerimónia do Terreiro do Paço, em Lisboa; e a celebração das vésperas em Fátima. O movimento Comunhão e Libertação (CL), associação de direito pontifício, vai distribuir panfletos sobre o Papa em escolas secundárias, colégios e universidades e, este domingo, promover um passeio de bicicleta pelas ruas de Lisboa. “O Papa é Cristo na Terra que vem até nós. É a unidade da Igreja, é o acontecimento do ano”, responde um membro da secretaria do CL, que não quer ser identificado. O PÚBLICO tentou falar com João Seabra, um dos sacerdotes com maior visibilidade dentro do movimento mas sem sucesso.

Além destes movimentos, também o Renovamento Carismático Católico (RCC), um chapéu para vários grupos como o Canção Nova, têm vindo a ser reconhecidos por Bento XVI; bem como os Focolares, associação ecuménica aceite por João Paulo II, vão estar presentes para aclamar o sucessor de Pedro. “Para nós o Papa representa sempre, seja qual for a ideia que o mundo tem, o vigário de Cristo na Terra. Não temos a menor dúvida. Apesar de toda a polémica”, declara Margarida Freitas, dos Focolares. “Os cristãos seguem o Papa com um tipo de seguimento que pode confundir ou desiludir a mentalidade moderna”, aponta Pedro Gil, director do gabinete de imprensa do Opus Dei, erigido por João Paulo II como prelatura pessoal, ou seja, que depende directamente do Papa.

“Reacção à modernidade”

Apesar de muito diferentes – por exemplo os Focolares aceitam pessoas de outras religiões, o Opus Dei acredita que a Igreja Católica é a única detentora da verdade, define Helena Vilaça, socióloga da Universidade do Porto – todos têm em comum o respeito pela hierarquia em que o Papa é a cabeça da Igreja.

Para Joaquim Costa, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, que investigou os “novos movimentos”, todas as organizações antes referidas são “conservadoras”. “O tom conservador, quando não reaccionário, de muitos destes movimentos parece ser uma reacção à modernidade”, diz. A ascensão destes movimentos até à cúpula do Vaticano não aconteceu por razões meramente religiosas mas também políticas, como “contra-ataque à Teologia da Libertação”, que denuncia a pobreza e exclusão social, na América Latina, continua.

Quer João Paulo II quer Bento XVI deram prioridade a estes movimentos, aponta Alfredo Teixeira, do Centro de Estudos das Religiões e Culturas da Universidade Católica Portuguesa. “Todos propõem um recomeço, uma mudança do catolicismo cultural para um confessante. A sua prioridade é a conversão”, diz. Do “catolicismo discreto” proposto por Paulo VI, passa-se para uma “posição ostensiva do ser católico”, descreve.

As roupas, como o uso regular do cabeção pelos padres ligados a estes grupos, são um primeiro sinal. Os seguintes são as suas posições relativamente à moral sexual. Joaquim Costa concorda e dá alguns exemplos já conhecidos: as posições contra o aborto, a eutanásia, o uso de anticoncepcionais ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Para não falar de questões internas como o casamento dos padres ou o sacerdócio das mulheres. “Quanto à moral privada são bastante rígidos”, resume Helena Vilaça.

Por exemplo, o RCC tem sido revitalizado com grupos oriundos do Brasil e vai, a pouco e pouco tornar-se mais conservador, vaticina Eduardo Gabriel, sociólogo da religião da Universidade de São Paulo, que esteve na Universidade de Lisboa a investigar estes grupos. No Brasil, os jovens que pertencem ao RCC defendem a castidade antes do casamento, exemplifica. O PÚBLICO tentou ouvir este grupo, sem sucesso.

Quanto aos Arautos, continua Eduardo Gabriel, trata-se de um “movimento muito conservador” com um discurso “moralizador, doutrinário e autoritário. Tem uma postura rígida, que lembra aspectos militares e usam vestimentas com símbolos medievais”, descreve.

Outra característica comum aos movimentos é que não dependem dos bispos locais, mas respondem directamente à Santa Sé. “No catolicismo paroquial há forças contrárias a estes grupos porque estão a contribuir para a erosão da paróquia”, analisa Alfredo Teixeira. As paróquias são mais inclusivas, ao contrário destes movimentos, que em alguns casos são elitistas, avalia Joaquim Costa. No entanto há muitas que autorizam que estes grupos trabalhem no seu interior como acontece com o Caminho ou os Focolares, bem como há padres destes movimentos responsáveis por paróquias, como o CL.

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